Líquido avermelhado foi encontrado em urna funerária de cerca de dois mil anos
Uma urna funerária romana de 2.000 anos, descoberta durante reformas no sul da Espanha, contém o vinho mais antigo já encontrado ainda em forma líquida.
O conteúdo da urna, encontrada em 2019, foi analisado por uma equipe de cientistas da Universidade de Córdoba em um estudo publicado na segunda-feira (17).
O principal autor do estudo, José Rafael Ruiz Arrebola, professor de química orgânica da universidade, disse que a urna continha restos cremados, marfim queimado que se acredita vir de uma pira funerária e cerca de 4,5 litros de líquido avermelhado.
“Quando os arqueólogos abriram a urna, quase congelamos”, disse ele. “Foi muito surpreendente.”
A equipe realizou então uma análise química do líquido e descobriu que se tratava de vinho.
Isto foi uma grande surpresa, porque o vinho normalmente evapora rapidamente e é quimicamente instável, disse Ruiz Arrebola.
“Isso significa que é quase impossível encontrar o que encontramos”, disse ele, explicando que o vinho foi preservado por um selo hermético que o impedia de evaporar, mas não está claro como o selo se formou.
Outras análises químicas permitiram à equipe identificar o líquido como um vinho branco, pois não continha ácido siríngico, substância presente apenas nos vinhos tintos, disse Ruiz Arrebola. O conteúdo tem também uma composição de sais minerais semelhante à dos vinhos finos hoje produzidos na região, acrescentou.
“É algo único”, disse Ruiz Arrebola. “Tivemos a sorte de encontrá-lo e analisá-lo – é algo que você só vê uma vez na vida.”
Os investigadores acreditam que a sua descoberta destrona a atual detentora do recorde de vinho mais antigo em estado líquido, a garrafa de vinho Speyer, encontrada na Alemanha, que se pensa ter cerca de 1.700 anos. No entanto, a idade da garrafa Speyer não foi confirmada por análises químicas.
O recipiente era uma das seis urnas funerárias contendo restos mortais encontrados no mausoléu.
A descoberta de um anel de ouro e outros artefatos valiosos sugere que foi construído por uma família de considerável riqueza, disse Ruiz Arrebola.
No entanto, pouco mais se sabe sobre as suas vidas, porque a cremação teria destruído qualquer DNA, explicou, acrescentando que isto significa que é impossível dizer se as seis pessoas eram parentes.
Ruiz Arrebola agora planeja tentar descobrir com qual vinho local moderno ele se parece mais, embora haja centenas para analisar.